domingo, dezembro 17, 2006

Negro e Amargo Blues




Negro e Amargo Blues talvez seja o principal livro de James Lee Burke. Pelo menos foi com ele que o autor levou o Edgar de melhor novela em 1990.

É o terceiro livro com o detetive Dave Robicheaux (de um total de 16 já lançados nos EUA, 5 já desembarcaram por aqui). Suas tramas não são no estilo do que os americanos denominam "whodoit?" (quem matou?). Está mais para: "como Robicheux convencerá os homens maus a pararem com isso?"

O ex-investigador está aposentado, vivendo da venda de iscas e do aluguel de barcos na Lousiana, próximo ao Golfo do México. Vivem com ele, sua filha adotiva Alafair (nome verdadeiro de uma das filhas do autor) e mais dois empregados. Uma vida aparentemente tranqüila. Suas angústias podem ser consideradas normais para um ex-alcoolátra que ficou viúvo de maneira trágica.

Mas, a encrenca parece que o persegue. Meio sem querer acaba se envolvendo com o amigo Dixie Lee Pough, um velho astro de rock dos anos 50 e Clete Purcell, seu antigo parceiro em New Iberia. O alcóol e a grana às vezes nos levam a caminhos indesejáveis...

E quem acaba na mira da Lei é o próprio Robicheaux. A penitenciária de segurança máxima Angola o espera. E ele não vai querer deixar sua menininha Alafair sozinha no mundo.

Robicheaux é um dos grandes detetives da atual literatura americana. Bastante atormentado por seu passado e extremamente violento quando necessário, suas histórias são ansiosamente aguardadas por uma legião de fãs. Neste livro ele está em grande forma.

Notas do livreiro:

1. "Negro e Amargo Blues" (Black cherry blues) é o nome de uma música criada por Dixie Lee. A letra retrata a amargura, a angústia e o remorso do velho amigo de Robicheaux pelos crimes que cometeu e que o fizeram cumprir pena. É uma homenagem ao vinho de cereja vendido ilegalmente na cadeia.

"Negro e Amargo Blues - Dixie Lee Pough"
Você pode se entregar, você pode até cair
De beber e se drogar.
Isso não importa, paizinho,
Porque você nunca vai esquecer
O gosto da prisão,
Do vinho negro e amargo
Do blues desta canção.


2. Este livro foi eleito 1 dos 100 melhores livros de mistério do século, selecionado pela IMBA (Independent Mystery Booksellers Association)

Abraços Criminais.

domingo, dezembro 10, 2006

The Children of Men (Filhos da Esperança)



Filhos da Esperança (The Children of Men, 2006) acabou de estrear nos cinemas brasileiros. Dirigido por Alfonso Cuarón. Com Clive Owen, Julianne Moore e Michael Caine.

É um filme de ficção científica, baseado em livro homônimo de PD James. O ano é o de 2027 e a raça humana está próxima da extinção. Os seres humanos perderam a capacidade de procriar. As mulheres não engravidam mais. O homem mais jovem do planeta tem 18 anos.

O que passaria na cabeça de um homem sabendo que não haverá futuro para sua espécie? Alguns tentariam desesperadamente arrumar alternativas para aumentar seu tempo de vida na Terra. Uns perderiam a esperança no futuro e a razão de viver. Outros iriam enlouquecer e se unir a fanáticos religiosos ou outros grupos de lunáticos buscando explicações para o inexplicável. O caos estaria implantado.

Para organizá-lo, um sistema totalitário, baseado na força militar. Este é o cenário da Londres em que Theo (Clive Owen) tenta escapar com uma "Fugi" (imigrante ilegal) grávida. Deve levá-la ao "Projeto Humano", onde a resistência ao regime trabalha com pesquisas para tentar salvar a humanidade.

O thriller político tem um ritmo alucinante. As sequências são de tirar o fôlego. E em alguns momentos, o filme tem a aparência de um documentário. O sangue chega a jorrar nas câmeras.

Apesar disso, o diretor deixa claro que o filme é somente inspirado no livro. A essência do que foi imaginado por PD James foi preservada. Mas o filme acaba deixando muitas perguntas sem respostas. A primeira reação após terminar o filme é ir atrás do livro (ainda não editado no Brasil). Buscar explicações para algumas questões e terminar de montar o quebra-cabeça imaginado por PD James.

Enquanto o livro não chega por aqui, divirtam-se com uma pequena ficha técnica da obra na wikipédia (em inglês).

Abraços criminais,

domingo, dezembro 03, 2006

Mamãe não voltou do supermercado



"Um Pulp que pensa que é Spillane" Mario Bortolotto

Assim o próprio autor definiu seu livro "Mamãe não voltou do supermercado", na última Balada Literária, ocasião do seu re-lançamento.

Quem somos nós para contestar?

"Mamãe..." é pulp, no seu melhor sentido. Livro com preço bem em conta, com uma história absurda, entretenimento rápido e extremamente divertido.

A história é narrada, em primeira pessoa, por Caio. Um pequeno marginal sem muitas aspirações, que cometia um delito aqui, outro ali. Nada demais. Aí um belo dia executam no supermercado a mãe do cara, uma senhora simples e que "nunca fez mal a ninguém". Intrigado, começa a perguntar. Sua rede de relacionamentos: travestis, prostitutas, traficantes e outras figuras urbanas. O ritmo é acelerado. Londrina, Ourinhos, Foz do Iguaçu e São Paulo.

As mortes começam a ocorrer em sequência, no mesmo ritmo das transas. Imaginação a mil, regada com alguns requintes de crueldade.

A violência, a postura machista e a vingança com as próprias mãos, nos fazem lembrar das histórias de Mike Hammer, o detetive de Mickey Spillane.

Pra terminar, um final chocante - engraçado e trágico. Bortolotto leva jeito pros policiais. Esperaremos o próximo.

Abraços criminais,

Notas do livreiro:

Mario Bortolotto é dramaturgo e autor do blog Atire no Dramaturgo. O título é uma homenagem ao livro Atire no Pianista, de David Goodis, levado ao cinema por Truffaut. Alías, o autor (Goodis) é citado no livro, em um momento chave da trama.