sábado, fevereiro 24, 2007

O Crime mais Cruel



O livro de Miriam Mambrini é mais um lançamento da literatura policial brasileira em 2006. O primeiro da coleção "Elementar, meu caro leitor", da Editora Bom Texto. Coleção que terá inclusive meu amigo Júlio César Corrêa, com "Crimes e Perversões", na próxima edição.

Não é exatamente um policial clássico. Está mais para um suspense psicológico. Se é em situações extremas que a natureza humana se manifesta na sua forma mais pura, então aqui a gente percebe como ela pode ser mesquinha, frustrada, egoísta e arrogante.

Um tio que vê no sequestro do sobrinho a grande oportunidade para sua falta de criatividade em escrever um livro policial.
Uma mãe que durante o sequestro consegue arrumar tempo para um romancezinho.
Uma empregada doméstica que está mais preocupada em culpar sua companheira de trabalho na casa do que com a própria integridade da criança.
Uma irmã ciumenta que a última coisa em que pensa é na saúde do irmão.
Um pai que parece mais querer aperfeiçoar seu poder de negociação e testar sua performance em situações de pressão.
Parentes e amigos que estão mais interessados nas notícias fresquinhas sobre o sequestro do que com o sequestro em si.
E ainda uma ex-mulher que durante o sequestro vem com a seguinte pérola: "Lembre-se que o valor do resgate já será parte da herança do garoto, portanto o mesmo montante deverá ser transferido para os seus dois outros filhos".

Toda uma série de pequenos crimes - delitos de personalidade. Que estavam sempre ali, presentes, uns mais adormecidos do que outros, só esperando uma oportunidade para virem à tona.

Vieram e não vão embora tão cedo.

Abraços criminais,


Off-Topic:

Cabe sospechar que ciertos críticos niegan al género policial la jerarquía que le corresponde solamente porque le falta el prestigio del tedio. (...) Ello se debe, quizá, a un inconfesado juicio puritano: considerar que un acto puramente agradable no puede ser meritorio.

JORGE LUIS BORGES y ADOLFO BIOY CASARES

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Roubaram o Falcão Maltês! De novo?



O falcão é o mesmo. A cidade é a mesma. E quem levou a estatueta também é um mistério.

Dashiel Hammett escreveu o clássico romance em 1932. Uma das mais aclamadas obras da literatura noir ou hard-boiled americana. A trama toda gira em torno da estatueta de um falcão - peça extremamente valiosa. Sam Spade se envolve no jogo e acaba vendo seu sócio assassinado por causa do objeto. O livro está em 10 das 10 listas de melhores (ou mais importantes) obras da litertura policial de todos os tempos.

O Falcão Maltês revolucionou a história da literatura policial. Mudou a cara dos textos. Os detetives deixam de ser somente cerebrais, largam suas mansões e os mistério das classes mais abastadas e vão às ruas. São caras durões, valentes e mulherengos. E têm que ser assim já que estamos na depressão, um período entre guerras, barra pesada. E os detetives, os crimes e as cidades refletem este clima.

A obra foi levada ao cinema em 1941, por John Huston e transformou-se em obra-prima. Humphrey Bogart consagrou-se no papel de Sam Spade. Aliás, na minha opinião, o filme "Relíquia Macabra" é uma das melhores adaptações literárias para o cinema.

A questão é que uma réplica do Falcão Maltês acaba de ser surrupiada do centenário restaurante John's Grill. O restaurante, além de servir grelhados e saladas, abriga um museu dedicado à literatura de Hammett. A decoração do restaurante preserva
o clima da San Francisco dos anos 30-40, palco de grande parte da obra do autor.

O proprietário do restaurante, John Konstin, que várias vezes atendeu o próprio Dashiel Hammett, está indignado. "A estátua tem um significado histórico para o restaurante e para a cidade. As pessoas vêm do mundo inteiro para ver o passáro. E nós o queremos de volta." Está até oferecendo uma recompensa pelo falcão.

Palhaçada! Engraçado? Não para nosso amigo John.

A fonte: Los Angeles Times, 14 de fevereiro de 2007.

Abraços criminais,

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Georges Simenon: parabéns para você!



Se estivesse vivo Georges Simenon completaria hoje 104 anos.
Um dos mais prolíficos autores policiais (utilizou cerca de 20 pseudônimos), considerado um dos maiores escritores do século XX e criador de um dos mais famosos detetives da história, o Comissarie Jules Maigret.

Foram 75 novelas com o detetive, de 1931 - fazendo ressurgir o Roman Policier francês - até 1972. Fora centenas de outras obras, Maigrets e Não-Maigrets, como ele mesmo definia.

Jules Maigret, além do cachimbo e do chapéu, caracteriza-se por ser um detetive de abordagem humana. Apesar de não tolerar os crimes, muitas vezes se coloca no lugar dos criminosos, estudando seu ambiente e suas possíveis motivações.




É um policial honesto, culto e marido fiel e tranquilo. Personalidade um pouco diferente talvez de seu criador. Um dos vários biógrafos de Simenon disse certa vez que escrever era uma distração para o sexo. Segundo o próprio Simenon ele teve em sua vida mais de 10.000 mulheres. Versão contestada por sua esposa - que afirmava que eram aproximadamente 1.200.

Uma pequena passagem de sua vida demonstra um pouco de sua personalidade. Ao completar 70 anos, em 13 de fevereiro de 1973, Simenon mandou que sua secretária inglesa, Joyce Aitken, solicitasse ao consulado belga em Lausanne, na Suíça, onde morava, a susbstituição da palavra "escritor" pela designação "sem profissão" em seu passaporte. Tinha cansado de escrever.

Um pouco antes, em 1966 ganhou o Grand Master Award do Mystery Writers of America.
Seus livros foram várias vezes adaptados para o cinema e para a televisão.

Fica a nossa lembrança.

Abraços criminais,

domingo, fevereiro 11, 2007

O Paradoxo Grego




O Paradoxo Grego é sem dúvida um dos grandes lançamentos de 2006. O livro pode ser classificado como um thriller de suspense. Brasileiro e de primeira linha.

Depois de "O mercador de Café" e "No Rastro de Chet Baker", voltamos a Amsterdã. Mas agora as questões que se colocam são a ética e o prolongamento da vida. O que aconteceria se de uma hora pra outra a expectativa de vida da população pulasse para 150 anos?

Com certeza muita grana iria mudar de mãos. E numa ponta, sem dúvida, estariam os inventores do elixir da juventude. Mas não antes de algumas mortes e puxadas de tapete.

Andrew Gritti, cientista americano especializado em pesquisas de anti-envelhecimento é convidado por um amigo a conhecer novas descobertas em sua área de pesquisa. Quando chega a Amsterdã, seu amigo está morto.

Gritti, que não é exatamente um exemplo de ética, se vê envolvido em uma grande cilada. Ao mesmo tempo encara a grande oportunidade de sua vida. E ele não está disposto a deixar tudo de lado e sair de Amsterdã com as mãos abanando.

No meio da trama, personagens bem interessantes: dois detetives holandeses fãs de romances policiais, algumas femme-fatales, um pastor, uma blogueira brasileira e muito, muito, cupuaçú.

Jeff Chandley (é brasileiro, apesar do nome estrangeiro) constrói bem os cenários e os personagens. Percebe-se um intenso trabalho de pesquisa para o desenvolvimento da obra. Aborda um assunto um tanto polêmico e consegue fazer um balanço interessante entre Ciência e Religião, talvez com uma tendência um pouco exagerada para esta última. Mas nada que faça com que a obra perca seu viés de suspense e surpresa.

Que 2007 traga obras tão boas como esta de Chandley.

Notas do livreiro:

1. O autor em duas oportunidades cita o filme Cocoon (Cocoon, 1985), onde um grupo de idosos encontra na piscina do asilo a fonte da juventude. Bom filme, que assisti alguma vezes na sessão da tarde.

2. Outro filme citado pelo autor é "O Inimigo de Estado" (Enemy of the State, 1998) em que Gene Hackman é um advogado implacavelmente perseguido pelo governo americano.

3. O livro tem até site oficial: www.oparadoxogrego.com.br. Vale a pena uma visita.

Abraços criminais,

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Raymond Chandler - Coleção de Chris Vandenbroucke




Raymond Chandler é de fato um dos grandes autores de romances policiais. A análise de suas obras merece um capítulo a parte e é trabalho para mais de um post. Prometo retomar o assunto quando a pesquisa estiver um pouco mais adiantada.

Um dos mais importantes escritores da linha policial denominada "hardboiled" (com detetives mais barra pesada e que transitam bem nos guetos e nas festas da alta sociedade) é o criador de Philip Marlowe, um dos mais famosos detetives da literatura.

Chandler exerce tamanho fascínio que levou nosso amigo belga Chris Vanderbroucke a cultivar uma enorme coleção de sua obra. Segundo a pesquisa de Chris são mais de 1750 diferentes edições (50 delas em português), em mais de 20 diferentes línguas, dos textos de Chandler. E ele já conseguiu quase 1000 delas.

E a obra de Chandler não é tão numerosa: são 7 romances e mais uma série de contos. Mas renderam 15 adaptações para o cinema e quase 50 publicações de estudos sobre ela (sendo 6 biografias).

Chris achou a Livraria do Crime por suas andanças na net. Rapelou nosso estoque de Chandler e foi muito gentil em responder às perguntas da nossa curiosa amiga Bia sobre sua coleção.

Vale a pena conferir a entrevista. O que ele acha de Chandler? "Simplesmente, o melhor. Os livros de Raymond Chandler são obras-primas atemporais e influenciaram a maioria dos escritores contemporâneos."

E quem vai discordar?

Abraços criminais,