terça-feira, setembro 09, 2008

Literatura: Coração Ferido, de Chelsea Cain

Serial killer de salto alto

Orelha: O detetive Archie Sheridan passou dez anos perseguindo Gretchen Lowell, uma estonteante serial killer, mas foi ela quem o capturou. Dois anos atrás, Gretchen aprisionou-o e torturou-o por dez dias, mas, em vez de matá-lo, ela surpreendentemente o deixou partir, entregando-se à polícia. Quando outro criminoso começa a seqüestrar meninas em Portland, Archie tem que liderar uma nova força-tarefa que investigará os assassinatos. Uma repórter jovem e determinada, Susan Ward, acompanha o trabalho do grupo, o que desencadeia um jogo mortal entre Archie, Susan, o novo serial killer e até Gretchen. Eles têm um maníaco para capturar, e talvez isso liberte Archie de Gretchen de uma vez por todas.

Coração Ferido foi lançado no Brasil com algum estardalhaço, se é que é possível falar assim de qualquer lançamento editorial que não seja Paulo Coelho ou Harry Potter. Após ter ficado quatro semanas na lista dos Mais Vendidos do The New York Times, o livro fez parte do lançamento de um novo selo da Editora Objetiva, o Suma de Letras, que reúne títulos importantes da literatura policial e de thriller.

Quando chegou às livrarias, Coração Ferido vinha embalado em um saco plástico, como os utilizados para coleta de provas e evidências em cenas de crime (quem assiste CSI sabe do que estou falando). Com manchas vermelhas imitando sangue, o livro prometia ser o novo O Silêncio dos Inocentes. Mas não é.

Não me entendam mal, o livro é bom. Ele só não é tudo aquilo que a campanha de marketing prometeu que seria. Quem lê a sinopse espera encontrar o mesmo jogo psicológico perigoso que caracteriza a relação entre Hannibal Lecter e Clarice Starling. Ocorre que o relacionamento entre Archie Sheridan e Gretchen Lowell neste Coração Ferido se apoia muito mais na tensão sexual entre os personagens do que em uma relação de submissão e controle como em O Silêncio dos Inocentes. Mas ainda assim é instigante.

Temos, então, duas histórias paralelas: em flashback, ficamos sabendo dos esforços de Archie para capturar um serial killer, como ele foi engando por Gretchen e acabou sendo capturado; no tempo presente, acompanhamos a investigação de outra série de crimes, para a qual Archie conta com a ajuda dos membros de sua antiga força-tarefa e de uma repórter.

E é essa última que é a história bem contada pela autora. Os suspeitos são apresentados pouco a pouco, não há as óbvias indicações de que um tenha mais probabilidade de ser o criminoso do que o outro. Da mesma forma, cada um dos personagens “do bem” recebe características bastante distintas, evitando que se tornem apenas um amontoado de nomes.

A narrativa ora foca Archie, ora foca a repórter Susan Ward, recurso que acaba por dividir um pouco as atenções do leitor entre os dois e não permite um real aprofundamento de qualquer um. Talvez porque o livro já foi concebido para ser parte de uma trilogia (o segundo livro, Sweetheart, acaba de ser lançado em hardcover nos Estados Unidos), a autora tenha optado por construir os personagens ao longo da série.

Ler Coração Ferido vale a pena, sim. Não é sempre que encontramos histórias com serial killers femininas e, no fim das contas, o mistério e o suspense estão lá, deixando os fãs de thrillers muito satisfeitos quando chegam à última página.

Resenha publicada originalmente no site Homem Nerd.

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