quarta-feira, março 07, 2007

trilhasonora1/negro e amargo blues/james lee burke



eu era o maioral. estive no paramount theater, no brooklin, com allan freed, dividi o palco com nomes como berry e eddie cochran.

ele levou a garota para um bar de negros em breux bridge, se bem me lembro; um bar de zydeco ou coisa assim. que merda é isso, afinal? é música dos negros e cajuns. quer dizer "vegetais"; uma mistura de vegetais.

coloquei la jolie blonde, com iry lejeune, para tocar na vitrola, vesti os calções de ginástica e fiquei malhando na cozinha durante meia hora.

isso foi logo depois dele ter posto o auditório inteiro abaixo cantando i saw the light, no opry.

era uma foto bem antiga, de arquivo, e mostrava-o no palco, sapatos de camurça, calças franzidas, um casaco esporte branco de lantejoulas, a guitarra sunburst pendurada no pescoço.

pedi um filé de frango e um café e fiquei ouvindo a versão de jimmy clanton para just a dream que vinha da vitrola automática no ambiente ao lado.

só que esse cara não tinha nada de engraçado. ele achava que rock'n'roll era coisa de negros e adoradores do diabo.

então, bolei uma canção sobre isso; de cabeça mesmo. podia ouvir todas as notas, as batidas, o contrabaixo me acompanhando.

...la jolie blonde, que instantaneamente fazia com que o ano voltasse a ser 1945.

just a dream, de jimmy clanton, tocava em todas as vitrolas automáticas do sul da louisiana, naquele verão, e os rádios dos carros no drive-in estavam sempre sintonizados no randy's record shop à meia-noite, quando randy dava início à madrugada com o programa sewanne river boogie.

quando o cara começou a tocar big boss man, qualquer um podia ver que ele já havia passado por parchman farm; ninguém consegue fingir esse tipo de sentimentos, filho.

ele construiu uma plataforma para o piano em seu clube, uma daquelas que sobem até os refletores enquanto o cara está tocando.

ficou andando pela casa, mal humorado, e então foi com sua guitarra sunburst até a varanda de trás, sentou-se nos degraus e começou a tocar, palheta nos dedos, e a entoar uma canção que eu ouvira antes apenas uma vez, há muitos anos. a letra seguia a melodia de just a closer walk with thee.

dixie armou um acorde de blues no alto do braço da guitarra e veio descendo com os dedos.

Um comentário:

Julio Cesar Corrêa disse...

Apesar de não conhecer o Burke, fiquei tentado a escrever um conto com essas passagens.
abração