segunda-feira, junho 01, 2009

Literatura: Vento Sudoeste, de Luiz Alfredo Garcia-Roza

O meio justifica os fins

Sinopse: No dia de seu aniversário, Gabriel ouve a previsão de que cometerá um assassinato antes de completar mais um ano de vida. Apavorado, o rapaz procura o delegado Espinosa para pedir que ele investigue o crime, que ainda não ocorreu. Gabriel também não sabe quem será a vítima ou por que tentará matá-la.

No terceiro livro de sua carreira, Luiz Alfredo Garcia-Roza dá espaço para que sua experiência como psicólogo e psicanalista influencie sua escrita de maneira incisiva, o que não é um defeito. Muitos estudiosos brasileiros, quando resolveram deixar de lado o meio acadêmico para se dedicar à escrita de ficção, ainda que temporariamente, optaram pela literatura policial e por situar a narrativa em ambientes que lhe são familiares. A professora de Direito da USP, Ada Pellegrini Grinover, escolheu esse caminho em Morte na USP, assim como o antropólogo Reginaldo Prandi (autor de livros sobre orixás e religiões africanas) com seu Morte nos Búzios, para citar apenas dois exemplos. Assim, é muito bem-vinda o viés analítico que Garcia-Roza imprime a Vento Sudoeste.

A premissa do livro já parece coisa de gente, digamos, desprovida de funções psicológicas normais, para usar uma linguagem politicamente correta. Espinosa é convocado a investigar um crime que ainda não ocorreu, do qual vítima, motivo e modus operandi são desconhecidos e cujo delator é o próprio assassino que ainda não o é.

Excepcionalmente, o interessante neste livro não é o desvendar do crime em si, atrativo de toda história policial, mas a escalada da paranoia de Gabriel e sua luta interna para não deixar que a predição do vidente se concretize. Mais uma vez, a escolha do foco narrativo na terceira pessoa e de forma onisciente permite que o leitor entre na mente de Gabriel e acompanhe a dimensão que o rapaz dá à previsão do vidente e como ele permite que isso se torne o centro de sua existência. É também o recurso do narrador onisciente que dá ao leitor pequenas pistas da personalidade de Gabriel e de sua mãe.

Dona Alzira, mãe de Gabriel, aliás, é outros quinhentos. Muito bem construída, a personagem pouco se faz notar, mas de maneira sorrateira adquire importância e explode diante dos olhos do leitor, que se pegará voltando as páginas para conseguir entender como não percebera antes a mudança que acaba de se operar.

Duas coisas ainda valem a pena ser ditas sobre Vento Sudoeste, uma boa e outra não tão boa. A não tão boa é que a personagem feminina bola da vez para Espinosa deixa muito a desejar se comparada a Bia Vasconcellos e Alba (de O Silêncio da Chuva) e Flor (de Achados e Perdidos). Irene não tem a elegância, a agressividade ou o traquejo de nenhuma de suas antecessoras.

O que resta de bom para ser destacado é, mais uma vez, a ousadia do autor. Se em O Silêncio da Chuva, ele conta o final antes mesmo de o livro começar, em Vento Sudoeste o livro termina, mas o leitor não tem certeza do que aconteceu. Nesse caso, pouco importa o fim, é o meio com que chegamos lá que faz a diferença quando se trata de Garcia-Roza e do delegado Espinosa.

Resenha publicada originalmente no site Homem Nerd.

Um comentário:

Anônimo disse...

tudo tem começo,meio e fim...E esse livro ñ tem o fim !
predi meu tempo lendo ,queria saber se gabriel realmente matou alguem !
se a mãe se matou ou foi morta ,
enfimm...

perda de tempo ! Ù_Ú