quarta-feira, outubro 18, 2006

O Mercador de Café



David Liss tem se especializado em suspenses históricos, abordando muito bem temas relacionados às finanças e à economia. Depois do ótimo “Conspiração de Papel”, onde o ex-boxeador Benjamin Weaver se envolve em uma trama com títulos de uma empresa inglesa, neste “O Mercador de Café” o cenário é a Holanda do século XVII, com as tensões se passando na bolsa de valores, em meio a títulos futuros e opções de compra e venda de mercadorias.

O leitor é “literalmente” transportado para a Amsterdã de 1659:

“Os sinos de Nieuwe Kerk badalavam duas vezes, indicando o fim das movimentações na bolsa de valores. Centenas de corretores saíam para a Dam, a grande praça no centro de Amsterdã. Espalhavam-se pelos becos, ruas e margens do canal. Ao longo da Warmoesstraat, caminho mais rápido para as tavernas mais populares, os vendedores ficavam do lado de fora das lojas envergando chapéus de abas largas para protegê-los das emanações do Zuiderzee. Expunham sacos de especiarias, rolos de linho, barris de tabaco. Alfaiates, sapateiros e chapeleiros convidam os clientes a entrarem nas oficinas enquanto vendedores de livros, canetas e quinquilharias exóticas anunciavam suas mercadorias.”

“A Warmoesstratt tornava-se uma enxurrada de chapéus e roupas negras, maculada apenas pelos colarinhos, mangas e meias brancas, ou pelo brilho das fivelas de prata dos sapatos. Os negociantes vendiam bens do Oriente e do Novo Mundo, vindos de lugares a respeito dos quais ninguém ouvira falar cem anos antes. Excitados como escolares liberados da sala de aula, os comerciantes falavam de seus negócios em uma dúzia de idiomas diferentes. Riam, gritavam, apontavam e agarravam qualquer coisa jovem e feminina que cruzasse seu caminho. Sacavam as suas bolsas e devoravam as mercadorias dos lojistas, deixando apenas moedas à sua passagem.”

O livro tem como carro chefe as artimanhas e negociatas de comerciantes judeus buscando a fortuna rápida nos mercados de valores. O protagonista principal, o judeu-português Miguel Lienzo, tenta a todo o custo salvar sua reputação de grande negociador e enriquecer com um produto até então desconhecido da população européia: o café. Suas armações para controlar o mercado do produto esbarram nos interesses de poderosos grupos, muitos deles representados pela classe dirigente da comunidade judaica recém chegada à Amsterdã.

Neste jogo, traições, trapaças, ameaças, vinganças e mentiras são as peças a serem movimentadas por personagens interessantíssimos como Alonzo Alferonda, Solomon Parido e Geertruid. Vale a pena conferir.

Curiosidade: Ao longo da obra, Miguel Lienzo se distrái com as revistas do ladrão “Pieter, o galante”. Não sabemos se o personagem realmente existiu ou se é uma homenagem a outros ladrões da literatura, como Arsene Lupin, de Maurice Leblanc. Se souberem de alguma pista...

Abraços Criminais

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