quarta-feira, abril 09, 2008

Literatura: O Enigma de Paris, de Pablo de Santis

Homenagem à literatura policial

Sinopse: “Paris, 1889. Os investigadores mais famosos do mundo, conhecidos como Doze Detetives, reúnem-se para participar da Exposição Universal. Pela primeira vez, a seleta sociedade vai revelar ao mundo seus casos mais célebres, a filosofia da investigação, sua concepção do crime e seus métodos. Mas a estranha morte de um de seus integrantes, que teria despencado da torre Eiffel em construção, provocará uma reviravolta nos planos. Os detetives serão obrigados a afinar suas habilidades para resolver o que parece, a princípio, obra de um assassino em série. A realidade nunca é o que parece.” (quarta capa)

Desde que Edgar Allan Poe definiu as características do romance policial de enigma, detetives inteligentíssimos – verdadeiras máquinas de raciocinar – se metem em aventuras sempre acompanhados de um amigo ou de um empregado; o personagem, por vezes, também atua como narrador da história que lemos. Foi assim com Auguste Dupin e o seu amigo inominado (E.A. Poe), Sherlock Holmes e Dr. Watson (A.C. Doyle), Hercule Poirot e Capitão Hastings (A. Christie), Nero Wolfe e Archie Goodwin (R. Stout).

Neste O Enigma de Paris, o escritor argentino Pablo De Santis faz merecida homenagem a essa que é uma das figuras essenciais da literatura policial clássica: o assistente.

Os argentinos dedicam-se, de fato, à literatura de gênero com freqüência maior que nós, brasileiros, e percebemos a influência de Borges e Bioy Casares em De Santis. A história trata, o tempo todo, das regras escritas e não-escritas que um romance policial deve seguir para ser enquadrado no gênero. Na verdade, as normas para a literatura se refletem, no livro de De Santis, na conduta dos personagens, em um exercício de metalinguagem bastante criativo.

O autor desafia todas as regras, como se zombasse da tradição, mas, ao mesmo tempo, desafia o leitor assíduo a percebê-las nas entrelinhas de seu texto. O livro traz um personagem principal que não é detetive, diversos mistérios que não se resolvem e um desfecho extremamente inortodoxo.

Para quem quer apenas ler um bom livro e divertir-se com uma história bem escrita e cheia de insights como “Detetives e sapateiros vêem o mundo de baixo, e uns e outros se ocupam dos passos humanos no momento em que estes se desviam do caminho”, encontrará em O Enigma de Paris um prato cheio.

Quem é apaixonado por literatura policial, como eu, encontrará muito mais. Na segunda parte do livro, em que os Doze Detetives e seus respectivos assistentes estão reunidos em Paris, há todo um capítulo dedicado à definição de cada detetive do que é um enigma. Cada um apresenta a que mais lhe parece adequada, em um elenco de imagens que passa pelo quebra-cabeça e pela folha de papel em branco. O que vemos, porém, é uma análise de metáforas repetidas em diversos romances policiais. De Santis transforma a escrita dos escritores clássicos na voz dos detetives de seu romance.

Uma coisa é certa: o livro é muito, muito bom. Desde que li A Sombra do Vento, do espanhol Carlos Ruiz Zafón, não me surpreendia tanto com um livro.

Resenha publicada originalmente no site Homem Nerd.

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