terça-feira, abril 15, 2008

Literatura: O Executante, de Rubem Mauro Machado

Noir à brasileira

Sinopse: Pela primeira vez em livro, a reunião de três histórias de suspense escritas por Rubem Mauro Machado, vencedor do prêmio Jabuti de melhor romance em 1986, com A Idade da Paixão.

Antes de iniciar o livro, uma nota do autor alerta que as três histórias foram escritas em épocas diferentes e compiladas no volume que o leitor tem em mãos. Em comum, além do fato de o cenário ser o Rio de Janeiro, a violência que “[...] deve ser antes de mais nada imputada ao tipo de sociedade em que vivemos.” O leitor já sabe, então, que não encontrará nada que se pareça com os insípidos crimes ingleses tradicionais.

As duas primeiras histórias, apesar de independentes, possuem personagens em comum: o repórter policial Hipólito Moura e o detetive Rodolfo da 13ª DP, amigos e colegas que se encontram uma vez por semana para trocar detalhes sobre as investigações mais importantes da cidade. Se Sam Spade (O Falcão Maltês, de Dashiell Hammett) ou Philip Marlowe (O Longo Adeus, de Raymond Chandler) tivessem algum senso de humor ou de sarcasmo brasileiro, estariam lado a lado com o jornalista e o policial.

“A carícia da serpente” descreve a investigação, feita pelo jornalista, da tentativa de assassinato de um figurão. Hipólito é hilário, se me permitem o trocadilho ruim. Não no sentido escancarado e pastelão, mas na forma como derruba suas palavras e opiniões no papel, sem pudores. Na minha cabeça, a figura dele se assemelha ao Ed Mort, de Luiz Fernando Veríssimo, mas bem mais esperto.

“Assassinato em Copacabana” é uma história de amor e morte na noite carioca, protagonizada por Rodolfo. Ao contrário do amigo-quase-irmão Hipólito, Rodolfo é mais sério, já foi casado, tem uma filha. Nele, os desejos estão mais latentes e o clima de sexo é presente em toda a narrativa.

A terceira história, que dá nome ao livro, narra a chegada de um pistoleiro de aluguel americano, que vem ao Brasil para uma missão misteriosa. A descrição do pistoleiro nos é dada pela opinião dos que entram em contato com ele e é muito interessante observar como Felipe, o brasileiro encarregado de guiar o americano, ora se comporta como dono e senhor da situação, ora é subjugado pelo matador.

As três histórias são excelente exemplos da aclimatização do policial noir francês e do hard-boiled americano à realidade brasileira.

Resenha publicada originalmente no site Homem Nerd.

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